segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Atirei o Pau no Gato

 
Atirei o pau no gato-to
Mas o gato-to
Não morreu-eu-eu
Dona Chica-ca
Admirou-se-se
Do berro, do berro, do berro que o gato deu:
Miau!

Se você nasceu até 1991 e conseguiu ler essa poesia infantil cantarolando uma das músicas mais conhecidas da minha infância, fico feliz por você. Eu tenho saudade dessa época. Saudade do tempo em que “Atirei o pau no gato” era apenas uma música inocente e divertida, que embalava rodas de crianças sem nenhuma maldade. Conversando com a diretora da escola de minha prima, ela me informou que essa música foi abolida de todas as escolas que ela conhece, porque incentiva maus tratos aos animais.

Até criaram outra versão:

Não atire o pau no gato-to
Porque isso-so
Não se faz-faz-faz
O bichinho-o
É nosso amigo-go
Não devemos maltratar os animais
Miau!
 
Esse é o tipo de caso que reforça o ditado “a maldade está nos olhos de quem vê” e onde o completo com um “e não na boca de quem canta”. Que eu me lembre, jamais senti vontade de atirar um pau num gato por causa dessa música. Na verdade, só vim entender que “do berrô, do berrô...” significava o berro do gato, depois de muito tempo.

A letra da nova versão é perfeita, correta e do bem. Mas... veja que ironia: garanto que quem compôs, não se lembra que para uma criança e até pra nós mesmos, o “não faça!” significa “faça escondido” e o “faça!” significa “vou ver se vale a pena antes de fazer”.
 
Antigamente não existiam traumas infantis, apologias ao mal com músicas de roda e de ninar, preconceito em qualquer frase, excesso de cuidado... Atualmente tudo é traumático, tudo é apologia ao mal, tudo induz ao erro, tudo é errado, todas as músicas influenciam mal, palmada é crime... Que tempo foi melhor? Algum adulto traumatizado condena os seus pais porque disseram que o homem do saco viria buscar se ele não tomasse banho? Será que a minha infância foi tão complicada e eu nem percebi?

Vou ensinar a meu filho a cantar “Atirei o pau no gato” da maneira que aprendi, e vou ensinar a não maltratar os animais, assim como também aprendi.
 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A PAZ QUE NÃO EXISTE

I'm lost.
Quero fazer tudo, e quero fazer nada.
Tenho tudo, e tenho nada.
Quero ir para todos os lugares, e quero ficar aqui. Neste.
Do tudo que sou, reconheço-me em nada.

Tenho dezenas de pessoas na minha vida, e sinto-me profundamente só.
Quero fazer mais, mas não sei o quê.
Quero ser Especial, mas nada em mim se sente especial.
Quero fazer a diferença, mas preciso de estabilidade.

Parece que sou incapaz de me humanizar... de criar relações profundas e boas, de confiança e Paz.
Preciso de me organizar, de parar, mas não tenho Tempo. E quando o tenho, não aproveito para me ver, para me ouvir.
Ando constantemente a fugir de mim.
Estou cansado.
E hoje não me apetece fingir que estou bem.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Apostas e Certezas: Ideologia e Hipocrisia de mãos dadas!

Apostas e Certezas: Ideologia e Hipocrisia de mãos dadas!: "Ideologia : Sistema de ideias, crenças, comunicações religiosas ou políticas / Maneira de pensar que caracteriza um indivíduo ou um grupo de..."

quarta-feira, 30 de março de 2011

Carta aberta ao Deputado Jair Bolsonaro




Caro futuro ex-deputado Jair Bolsonaro,
Espero, sinceramente, que você leia esta carta e já esteja muito longe do poder.  Por isso me recuso a usar qualquer pronome de tratamento com você. Até porque, bem na verdade, o senhor não merece qualquer tipo de tratamento diferenciado, afinal, defende que não existam diferenças, uma vez que a constituição brasileira é igual para todos, não é?
Fere meu orgulho de ser brasileiro ver alguém como o senhor representando o estado do Rio de Janeiro em Brasília. Fere, primeiramente, por ver que o senhor está no poder há vinte anos sustentando o mesmo discurso nazi-fascista. O senhor, deputado, não defende os valores da família. O senhor defende tudo que há de mais errado na nossa sociedade. O senhor defende o preconceito, o desrespeito, o desprezo e a violência. São seis mandatos consecutivos propagando o ódio.
É, no mínimo, revoltante ver que alguém como você, que está na Câmara dos Deputados representando o povo brasileiro, tenha esse tipo de discurso. Será que o povo brasileiro é um recorte do seu comportamento? Será que o povo brasileiro concorda em não entrar em um avião pilotado por um aluno cotista? Será que o povo brasileiro pediria ao médico, antes de qualquer procedimento, que desse uma prova de que não é cotista? O que o senhor, em vinte anos como deputado federal, fez para reverter a necessidade de cotas raciais ou sociais? Quanto o senhor já gastou de seu tempo modificando as políticas sociais do país e pedindo melhorias na educação? Acho que o senhor estava ocupado demais pescando com seus filhos e posando para seu site com um belo uniforme militar para se preocupar com suas reais obrigações com o país.
Jair, entenda, se hoje o Brasil está “desse jeito”, como o senhor reclama, a culpa é única  e exclusiva do processo ditatorial que passamos por anos nestas terras. Ou seja, se hoje existe o desrespeito a familia, e pessoas precisando “levar uma boa surra”, a culpa é sua. A culpa é do silêncio que seus amigos propagaram no país. Esse grito que fazemos todos os dias nada mais é que o trauma pelos desprezíveis anos que passamos sob o jugo da censura e da tortura.
O senhor diz que não tem filhos gays porque os deu uma boa educação e sempre esteve presente na infância deles. Ora, deputado, acredite, meu pai me deu uma educação exemplar. Coisa que muito me orgulho. E sempre foi presente. Sempre foi preocupado com minha educação e sempre esteve ao meu lado. Meus pais são casados até hoje, sempre vivi num lar de cultura hetero-normativa como o lar que o senhor propõe a toda familia brasileira, e curiosamente, sou homossexual. Talvez meu pai não tenha sido tão presente quanto o senhor. Talvez porque ele precisava ter dois empregos enquanto a ditadura estava no país. Talvez porque meu pai nunca ganhou pensão como militar, nunca ganhou décimo-quarto e décimo-quinto salários e outros benefícios. Talvez porque meu pai precisou esconder seus ideais quanto tinha a minha idade, pois teve centenas de amigos presos e torturados, muitos deles, desaparecidos até hoje, enquanto o senhor se esbaldava no manjar da ditadura militar. Perdão. Durante o governo militarista, fruto da heróica revolução de 1964. Saudades do Geisel, não?
Deputado, acredite, nós homossexuais não queremos ser “tolerados”. Tolerar é muito pouco. Queremos que o discurso do senhor, que a constituição é igual para todos, seja válido. Queremos ter os mesmos direitos que o senhor. Queremos poder casar, queremos nos divorciar, queremos ter direito a pensão, direito visitas íntimas quando um companheiro estiver preso, e tudo mais que o senhor desfruta hoje e eu não. Já disse Saramago: “Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente ainda é muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdadade, mas de superioridade sobre o outro. Deveríamos criar uma relação entre as pessoas da qual estivessem excluídas a tolerância e a intolerância”.
Não, Jair. A nação não ruirá com os valores familiares do séculos XIV caindo por terra. As estruturas familiares hoje vão muito além das aparências que o senhor sustenta. Hoje o Brasil conta com um incrível número de mães solteiras, casais divorciados e casais homossexuais, com seus filhos, e outras tantas estruturas familiares que vão muito além dos adesivos de familia feliz colados nos pára-choques de carros. Nem por isso nosso Estado está arruinado. Pelo contrário, aqueles que lutaram contra a ditadura que o senhor apoiou e brindou a morte de tantos, trouxeram um país muito mais próspero. A fase mais próspera da economia brasileira.
Dentre todas suas declarações, todas extremamente equivocadas, a que mais me choca é ver a sua opinião sobre ter uma nora negra. Receber uma mulher negra em sua família é um ato promíscuo? Em sua resposta a Preta Gil, filha de um exilado político da Ditadura, mulher e negra, o senhor desrespeitou, em uma única frase, três setores da sociedade. Qualificar a paixão como falta de educação foi um duro tapa na cara. Por mais que muitos tenham boa vontade e acreditem que o senhor não entendeu a pergunta, ou que a edição tenha prejudicado, eu acredito sim que o senhor acredite que uma mulher negra, filha de rebeldes da ditadura militar, seja uma promiscuidade. Isso é uma ofensa a todos aqueles que se solidarizam com as vítimas da ditadura, com todas as mulheres e todas e todos os negros deste país. Acredite, é bastante gente. Muito mais que os militares que o senhor defende. Muito mais que os míseros 120 mil eleitores que o senhor conquistou em 2010.
Não, Jair Bolsonaro. O senhor não me representa. O senhor representa apenas os equívocos que esse país já cometeu. Representa o retrocesso. Representa a necessidade de cotas, que o senhor tanto critica, representa a escravidão, o silêncio, as masmorras e todas as atrocidades já cometidas nesse país.
O senhor, futuro ex-deputado Jair Bolsonaro, representa tudo que o Brasil hoje mais abomina. E todos os 120 mil eleitores que o colocaram em seu sexto mandato são totalmente responsáveis por esse grotesco show de horrores protagonizado em nossa recente democracia. Irônico um ex-militar que apóia e se diz saudosista da ditadura depender tanto da democracia pra viver,  não?  São 120 mil pessoas que pregam o racismo, a homofobia e a misoginia. Espero, do fundo do meu coração, que o senhor leia isso. E não quero nada além de esclarecimento ao senhor. Jamais desejaria tortura ou a morte a alguém como você. Você merece a tortura pessoal e psicológica de ter um dia usar sua língua como seu chicote.
Atenciosamente
João Márcio Dias de Alencar

segunda-feira, 28 de março de 2011

Verdades Sobre a Mentira


“Mentir é feio”. Essa frase perpassou os meandros da minha vida em etapas e lugares distintos. Desde a infância, com a alegoria do Pinóquio, até os tempos de universidade, com as reflexões sobre meio e fim. Todos mentem, seja deslavadamente ou com sutileza, para os quatro cantos ou interiormente. Quem nunca mentiu, que atire a primeira pedra!
Acontece que já não admito que os conceitos tenham significados essenciais. Afinal as coisas não são porque são, mas porque foram construídas. Meu divisor de águas foi uma pergunta tão óbvia quanto imprescindível ao bom pensador: por que não devo mentir? Francamente, senhores, vi quase todos os argumentos se esfacelando frente ao meu desespero auto-consciente.
Tudo que coíbe a mentira só o faz para que as ações se tornem previsíveis e, portanto, controláveis. A verdade é uma prática de subordinação à ordem. Isso é evidente, por exemplo, no que se refere à religião. O indivíduo que crê em Deus ou qualquer forma de força metafísica, evita de mentir – porque isso significa estar fazendo algo que não é admitido, a partir de seus próprios preceitos – ou se auto-flagela mentalmente, por medo do veredito divino.
Na verdade, é preciso não ser tão hobbesiano. A mentira tem pai e mãe, não é filhote apenas do interesse. Além dos malefícios futuros previstos que a mentira pode causar, devo ressaltar a perspectiva que privilegia o significado da ação. Em muitos casos, não mentimos porque estamos incorporados de tal maneira com o que sustenta a verdade que, sem pressão alguma, somos entoados a arcar com todas as consequências que a verdade pode trazer.
Sempre percebi um estatuto harmonioso na verdade. Pensemos bem: se, independentemente dos desejos, as ações convergirem, a coesão é promovida. E a mentira serve, em primeira instância, para isso: não ser plenamente servo de nada, inclusive do coletivo.
Que fique claro, antes de qualquer conclusão precipitada: não estou elaborando uma ode à mentira, mas sim divagando sobre sua natureza e possíveis implicações. Minto. Quero, antes de mais nada, distinguir os tipos de mentira.
Em primeiro lugar, é equivocado separar categoricamente mentira e omissão. Porque o princípio fundamental da omissão é querer driblar a norma, seja institucional ou mesmo numa micro-relação. Omitir é o que, senão uma forma velada de enganar a si mesmo de que não se está escondendo a verdade?
O problema crucial da mentira é o mesmo da verdade. Quando você incorpora-os sem questionamento, naturaliza seu comportamento. E aí mora um perigo devastador: passar a acreditar na própria mentira. Algumas minúcias não têm lá grande peso no cotidiano, como enganar a si mesmo uns “quilinhos” a menos, em prol da auto-estima. Complicado é quando nos prendemos a uma redoma de ilusões a ponto de nos alienarmos da realidade, perdendo a capacidade de alterá-la e, pior, sofrendo quando esses mundos se chocam.
Como fio-da-meada desse enredo, suscito a questão: a mentira pode ser moderadora? Penso não ser muito distante do cotidiano de ninguém perceber que a vida teria um sem-número de conflitos a mais deflagrados, se ninguém mentisse. Mas meu argumento não é baseado na utilidade, e sim na legitimidade. Quando a verdade provoca mais sofrimento que a mentira, para alguém que não tem mais onde se segurar, sua procura é impositiva mais que outra coisa. Ou, em outra circunstância, como concordar com uma verdade que não é justa, pois atende a uma submissão que o próprio submetido não aprova? - o famoso e nada querido “ter que dar satisfação”. O que vale mais: o significado da mentira ou suas causas e efeitos?
Nem toda mentira é egoísta. Em muitos momentos, ocultar – pelo mecanismo que for - uma minúcia pode evitar desgastes desnecessários e até evidenciar solidariedade ou apego. Se você sonhou com alguém ou notou um olhar malicioso no trabalho, talvez seja mais prudente não dizer ao cônjuge, já que isto não quebra nenhum contrato não-falado do relacionamento de vocês.
Avalio que a verdade deve ser meio e não fim. Ou seja, em vez de uma procura ininterrupta e independente da ocasião, deve ser o pilar da relação – e não a mentira. Quanto a mim, apesar de todo esse raciocínio, devo confessar: não sou lá chegado à mentira, não por ser escravo de qualquer vigilância religiosa, familiar ou governamental. Meu entrave, estético que é, regressa ao princípio: mentir é feio.

 Marcel Albuquerque  

sexta-feira, 18 de março de 2011

Em defesa do blog de Maria Bethania

Jorge Furtado, cineasta
A gritaria contra o blog de Maria Bethânia é uma mistura de ignorância, preconceito e mau-caratismo.
Ignorância, porque parte de idéia absolutamente falsa de que os produtores do blog – que pretende exercer a tarefa vital de divulgar a poesia – recebeu ou vai receber este dinheiro do governo.
Juro que tenho saudade do tempo em que se lia fato ou ficção, hoje o que mais há são equívocos e mentiras, que não são um nem outro.
O fato é que a única coisa que os produtores do blog receberam do governo foi aautorização para se humilhar, pedindo a empresários, de porta em porta, que considerem a possibilidade de, ao invés de entregar parte de seus impostos ao governo, patrocinar, com a vantajosa exposição de suas marcas, um blog de uma extraordinária artista brasileira, blog este que tem como objetivo divulgar a poesia, não há tarefa mais nobre.
Nada garante que os produtores do blog terão sucesso em sua jornada de mendicância entre a elite empresarial brasileira, frequentemente iletrada. O mais provável é que consigam apenas uma parte desta verba e tenham que redimensionar o projeto, o que seria uma pena.
Na minha opinião, o governo brasileiro deveria tirar do seu caixa o dinheiro (1,3 milhões de reais, uma ninharia perto da roubalheira do Detran gaúcho, dos pedágios paulistas, da máfia do governo Roriz/Arruda no DF, etc, etc...) e entregar para a Maria Bethânia, junto com um buquê de rosas e um cartão, pedindo desculpas pela confusão.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Vamos encarar a realidade?

Eu não posso dizer que ela me decepcionou. Eu não tenho o direito de achar que meu coração tem duzentos e cinqüenta e cinco cicatrizes porque o amor é uma faca afiada que corta. Vamos jogar aberto. A culpa é minha. Eu dei meu coração. Eu inventei um amor. Eu criei expectativas. Então, com sua licença. A culpa é minha. Minha culpa. Minha feia culpa que é minha e de mais ninguém. Minha culpa de sete pontas. Minha culpa que me faz olhar a vida e me sentir personagem principal de uma página triste. E não é só triste. É uma culpa boa. Porque também me faz exercitar um sentimento maior (e mais brilhante que o mundo): o perdão. Se eu pudesse escolher um verbo hoje, eu escolheria perdoar. Assim, conjugado na primeira pessoa, com objeto direto e ponto final: eu me perdôo. Não, eu não te perdôo porque não tenho porque te perdoar. Você não fez nada. Tenho que perdoar a mim. A mim, que me ferrei. Me iludi. Me fodi. Me refiz. Me encantei. A culpa é minha. Minhas e das minhas expectativas. Minha e do meu coração lerdo. Minha e da minha imaginação pra lá de maluca. Então, com sua licença, deixe eu e minha culpa em paz. Eu e meu delicioso perdão por mim mesmo. Eu só te peço uma coisa. Pare de culpar a vida. Pare de ter pena de você. Se assuma. Se aceite. Se culpe. Se estrepe. Se mate. Mas se perdoe. Pelo amor de Deus, se perdoe. (Somos todos culpados, se quisermos. Somos todos felizes, se deixarmos).

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uma afronta à minha infância

Macacos me mordam, diria Robin. Santa promessa é o que faço agora. De mim para mim. Se Liga da Justiça, da banda LevaNóiz, for eleita a música do Carnaval de Salvador em 2011, peço licença e nunca mais tiro os pés do chão em solo soteropolitano. Será a última vez que passo o período de Momo por aqui. Pego uma bat-folga e vou de avião invisível para uma praia em outra galáxia.
Preconceito contra o pagode? Longe disso. Acho até que o ritmo até andou evoluindo. Não sou crítico musical, mas os caras melhoraram a percussão, ganharam superpoderes e estão cada vez melhores. É por isso mesmo que meus dois ouvidos precisariam ser biônicos para suportar o super-heróico hit do verão martelando toda hora na cabeça.
O pior não é nem a repetição. Liga da Justiça é, antes de tudo, uma afronta à minha infância.  Em primeiro lugar, Superman nunca fica fraco. No máximo, perde os poderes momentaneamente. E desde quando Pinguim mexe com kriptonita? Isso é coisa do cerebral Lex Luttor, que, aliás, faria música muito melhor se lhe fosse encomendada. Pelo menos o gênio do mal seria incapaz de ferir a gramática.

Ouçam o erro de concordância na versão original. Luttor e Coringa “roubou”, em vez de “roubaram” o laço da Mulher Maravilha. Licença poética qual nada. A música é ruim mesmo. Do início ao fim. A letra não se encaixa na melodia. Pela métrica mal feita, parece até coisa de Bizarro, o Superman às avessas com a cara quadrada. Mesmo sendo da Legião do Mal, o Charada bem que poderia dar uma forcinha para os compositores. Criatividade zero.
E tem mais. Mulher Maravilha jamais fugiria com Superman. Na liga da justiça, todo mundo sabe que ela sempre deu mole para o Batman. Enfim, a música do LevaNoiz é um retrocesso para o pagode, que tinha melhorado até nas letras. Firme e Forte, do Psi, e Selo de Qualidade, do Harmonia, são exemplos disso. Perto delas, a música dos super-heróis é de dar dó.

Se ganhar como música do Carnaval, vai haver um retorno às composições de sentido único, que em alguns casos está escondido num duplo sentido pessimamente elaborado. Não sei o que eles estão tramando. Na dúvida, melhor chamar os outros super- amigos.
E esse não é só um trabalho para Xande ou Márcio Victor. A sala de justiça da música baiana tem várias outras opções. Então, que história é essa de que agora só tem uma saída? Brown? Margareth? Daniela? Ivete? Scooby-Doo? Onde estão vocês, meus filhos?



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Propagandas sem fim


Assistir televisão virou um malabarismo do controle remoto. E o perigo do botãozinho está em nunca mais lembrar do que estava assistindo e só se dar conta no dia seguinte. A coleção de filmes sem final ou faltando um pedaço, já é maior do que os inteiros e os seriados viram uma mistura de tudo. Já não sei se o médico de um seriado é o assassino de outro e se o amigo de um é o bruxo de outro. É uma confusão de personagens e tramas por causa do controle e do excesso de intervalos.
As novelas nacionais viraram um monte de pedacinhos que você só consegue juntar lendo as capas de revistas nas bancas. O fulano casou com não sei quem e o outro matou mais um e aquela vilã destruiu a vida temporariamente da mocinha. Claro que novela é sempre a mesma estória e no final sempre acaba igual, por isso perder a continuação não faz nenhum diferença.
Mas a TV aberta tem lá suas desculpas, afinal eles precisam faturar para continuar existindo. Só que a TV a cabo nem poderia usar isso como desculpa.
E pior: eles ficam repetindo comerciais da sua própria programação.
É pior auto propagando do que o Vídeo Show!
Agora tenho desenvolvido uma técnica : só vou três canais para cima e três para baixo. Assim consigo ver um filme até o fim e uns pedaços dos outros canais vizinhos.
Fico imaginando se seria possível tolerar a televisão sem o controle remoto. Só mesmo se fosse para dormir no sofá.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Insônia

Entre a faca e o facão
Mais de 30% da população economicamente ativa está sem emprego. Quatro em cada dez egípcios travam uma luta diária contra a pobreza extrema, com apenas o equivalente a US$ 2 no bolso. E o ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder, ainda resiste em entregar o cargo e tenta encontrar brechas para conduzir seu filho à presidência do Egito. Na capital, Cairo, centenas de milhares de pessoas exigem o fim da corrupção e do governo Mubarak. E olhe que a marcha popular não precisou do incentivo de um trio elétrico para ir às ruas. É cidadania na veia. O problema é que a turma que quer assumir o poder não é assim tão confiável.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Trabalho Escravo

Por que parece difícil para as sociedades erradicar o trabalho escravo ou a escravidão de seres humanos?  Nem a Bíblia nem o Corão condenam a escravidão. Pelo contrário: por séculos, seus textos foram usados para legitimar a prática. E se hoje a escravidão nos escandaliza  é porque não podemos ler a Bíblia nem o Corão ao pé da letra. Se hoje abominamos a escravidão apesar de a Bíblia não condená-la, devemos repensar a nossa homofobia estimulada por leituras da Bíblia.  Instituições internacionais estimam que mais de 27 milhões de pessoas no mundo ainda vivem em condições análogas à escravidão. Absurdo! Não é porque textos considerados sagrados escritos há milênios não condenam e até defendem a escravidão, que vamos praticá-la, não é? A escravidão fere a dignidade da pessoa humana e é considerada um crime hediondo pela pela maioria das constituições e tratados. Não é porque textos considerados sagrados e escritos há milênios condenam a homossexualidade que vamos condená-la hoje em dia, não é? A homofobia e o racismo ferem a dignidade da pessoa humana e devem ser considerados crimes pela maioria das constituições. 
Os tempos são outros. Declaramos a existência de Direitos Humanos, válidos universalmente. Textos escritos há milênios não podem ser lidos ao pé da letra com propósitos escusos por demagogos e exploradores da boa fé alheia! Numa nação moderna e laica, é inadmissível que se legisle com base em dogmas religiosos e moral de livros escritos há milênios. Daqui a pouco, se nada for feito, se o voto não for consciente, não é só a homofobia que será legitimada, mas também a escravidão!

sábado, 22 de janeiro de 2011

Eu não gosto do “bom” gosto


É só começar uma nova edição do Big Brother Brasil para aquele coro formado por “intelectuais“ de mesa de bar e pelo baixo clero universitário comece a entoar sua cantilena repetitiva e entediante contra o programa, seja na mesa do bar propriamente dita, seja em segundos cadernos e sites que se ocupam do entretenimento televisivo. Os membros desse coro não só demonizam o BBB – com o argumento de que este “idiotiza as massas” porque não tem “conteúdo” – como fazem questão de se mostrar incríveis e orgulhosos de si por não assistirem ao programa; costumam se sentir seres humanos melhores por consumirem “bons livros” e “belas artes”. O coro não só constrói hierarquias de gosto e de consumo cultural como as trata como algo “natural”. Não, elas não são naturais, da ordem da natureza. Da ordem da natureza é a imobilidade das pedras, pois mesmo a cor dos olhos e a textura dos cabelos das pessoas não são mais naturais desde que se inventou a lente de contato colorida e a tintura-creme para chapinha. Hierarquias de gosto e de consumo cultural são construídas pelos homens; são um dado da cultura (cultura entendida como modo integral de vida e não como ilustração ou matéria de segundo caderno de jornal, que é como o senso comum e alguns “intelectuais” entendem o termo “cultura”). Logo, quem está por cima ou no poder vai definir seu consumo cultural como legítimo ou de “bom gosto”, estigmatizando, segundo seus critérios, o consumo de quem está por baixo como “inferior”, de “mau gosto” ou “menor”. E não se trata de uma mera distinção cultural apenas. Trata-se, antes, de justificar privilégios sociais e econômicos nesse mundo capitalista: “é justo que só eu e os meus possamos viajar para Nova York, pois só nós sabemos apreciar as belas artes do Museu de Arte Moderna; somos, portanto, seres humanos melhores que aqueles que se perdem na programação televisiva”. Quem está por cima e demoniza o consumo cultural dos pobres, esquece-se ou finge se esquecer de que uma viagem a NY para visitar o Museu de Arte Moderna custa caro! Esse argumento de quem está por cima é, na verdade, um ardil, pois essa gente sabe que no dia em que o consumo cultural for realmente democratizado; no dia em que o povão tiver acesso aos bens de consumo das elites, acaba-se a distinção cultural e a hierarquia entre as pessoas. Essa gentalha que se acha inteligente por desprezar publicamente o consumo das massas é, portanto, ardilosa e hipócrita (quer dizer, algumas reproduzem essa mentalidade até sem se dar conta, porque nunca pararam para se questionar). E olha que estou me referindo apenas àqueles que realmente consomem belas letras, belas artes, belas músicas, e não àqueles que fingem consumir, perdendo o tempo em mesas de bares criticando a tevê e a cultura de massa.
Com os filósofos franceses Michel Foucault e Michel de Certeau, aprendi que há resistências para toda disciplina (ou tentativa de sujeição ou produção de “corpos dóceis”). Todo consumo, ou toda leitura, ou toda recepção é feito num contexto; a partir de uma história de vida. Por isso, significados ou sentidos são produzidos mesmo nesse momento da recepção, por mais que os emissores das mensagens pretendam controlar os significados e, assim, manipular os receptores. Durante muito tempo, os intelectuais desprezaram essas resistências, esses desvios produzidos pelos subalternos. Durante muito tempo, os “iluminados” se outorgaram o papel de definir o que é melhor para a “massa ignara”. Durante muito tempo, esses “iluminados” desprezaram as soluções e arranjos elaborados pelas massas para lidar com a falta e a opressão cotidianas. Os “iluminados” nunca pararam para pensar que “se milhões de pessoas trocam um comício por um último capítulo de novela, isso não pode ser considerado um mero equívoco”, como disse outro filósofo francês, Jean Baudrillard. Os “iluminados” nunca repararam que os diferentes grupos que constituem as audiências podem se politizar a partir do consumo de programas televisivos. E só recentemente, no Brasil, pesquisas de recepção derrubaram o discurso dos inimigos da telenovela, que afirmavam que a mesma era um “ópio” que “despolitizava” e “idiotizava” as massas. Pesquisas que deixaram claro como os sentidos que as massas podem produzir a partir da telenovela podem ser mais relevantes politicamente do que imaginam os “iluminados” – os mesmos que, hoje, trocaram de objeto e “demonizam” o BBB. 
Quando alguém não tem argumentos teóricos sólidos e fala só a partir do senso comum produzido pela “intelligentsia” de segundo caderno de jornal diário; quando alguém desconhece a maior parte da produção intelectual recente sobre os meios de massa e as novas tecnologias da informação, só pode cair em crítica óbvia e ressentida às celebridades. Graças a Deus não sou celebridade. Já pensou ter de conviver com essa gente não premiada pela vida vibrando contra minha pessoa? Ainda bem que não sou celebridade! E é preciso que a “intelligentsia” de segundo caderno se aprofunde na proposta da Pop Art, para não ler como negativo aquilo que Warhol pensou como algo positivo: a democratização do star system!
[Texto de Jean]