segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Atirei o Pau no Gato

 
Atirei o pau no gato-to
Mas o gato-to
Não morreu-eu-eu
Dona Chica-ca
Admirou-se-se
Do berro, do berro, do berro que o gato deu:
Miau!

Se você nasceu até 1991 e conseguiu ler essa poesia infantil cantarolando uma das músicas mais conhecidas da minha infância, fico feliz por você. Eu tenho saudade dessa época. Saudade do tempo em que “Atirei o pau no gato” era apenas uma música inocente e divertida, que embalava rodas de crianças sem nenhuma maldade. Conversando com a diretora da escola de minha prima, ela me informou que essa música foi abolida de todas as escolas que ela conhece, porque incentiva maus tratos aos animais.

Até criaram outra versão:

Não atire o pau no gato-to
Porque isso-so
Não se faz-faz-faz
O bichinho-o
É nosso amigo-go
Não devemos maltratar os animais
Miau!
 
Esse é o tipo de caso que reforça o ditado “a maldade está nos olhos de quem vê” e onde o completo com um “e não na boca de quem canta”. Que eu me lembre, jamais senti vontade de atirar um pau num gato por causa dessa música. Na verdade, só vim entender que “do berrô, do berrô...” significava o berro do gato, depois de muito tempo.

A letra da nova versão é perfeita, correta e do bem. Mas... veja que ironia: garanto que quem compôs, não se lembra que para uma criança e até pra nós mesmos, o “não faça!” significa “faça escondido” e o “faça!” significa “vou ver se vale a pena antes de fazer”.
 
Antigamente não existiam traumas infantis, apologias ao mal com músicas de roda e de ninar, preconceito em qualquer frase, excesso de cuidado... Atualmente tudo é traumático, tudo é apologia ao mal, tudo induz ao erro, tudo é errado, todas as músicas influenciam mal, palmada é crime... Que tempo foi melhor? Algum adulto traumatizado condena os seus pais porque disseram que o homem do saco viria buscar se ele não tomasse banho? Será que a minha infância foi tão complicada e eu nem percebi?

Vou ensinar a meu filho a cantar “Atirei o pau no gato” da maneira que aprendi, e vou ensinar a não maltratar os animais, assim como também aprendi.