quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Me dá um dinheiro aí!

Ei, você aí, me dá um dinheiro aí!?
Não, esta frase não é o Jingle do Silvio Santos em pleno carnaval, e sim, o lema de todos os cultos realizados pela Universal do Reino de Deus em todos os lugares onde existe o imenso castelo. Em pleno vapor e berros, de uma forma contundente e incisiva, o homem lá na frente grita: doe, quanto mais se doa, mais o Senhor lhe dará de volta.
 
A única vez que eu tentei ir à igreja universal, eu fiquei surpreso com o império, com o verdadeiro templo, era algo grandioso, com jornais na porta sendo entregues, pessoas felizes cantando, uma maravilha, gostaria de saber de onde vinha toda aquela fortuna e descobri rapidamente logo nas primeiras horas.
 
Ao entrar no templo, vi lindos vitrais, pessoas em pé e com o passar do tempo aprendi que ali era um lugar do prefixo “ex-“, ex-, isso mesmo, era ex-ladrão, ex-traficante, ex-prostituta, ex-viciado, ex de ex e até, casos raros, como ex-gays e olha que a psicóloga Rosângela Alves Justino, ainda nem estava na moda com suas curas de gays mirabolantes, seria ela também da universal? Porém todos traziam algo em comum, além de serem ex-, eram todos frágeis psicologicamente.
 
Com as curas que ocorriam e os gritos de aleluia entoados o tempo todo, eu não me aguente ei comecei a rir, mas ao mesmo tempo, tinha que me conter para que o pastor lá na frente não me pegasse pelo braço, me levasse ao centro do palco para dizer que eu estava possuído, começasse a me dar uma verdadeira surra e pedir dinheiro para saber quanto eu poderia doar para que eu tivesse o demônio expulso do meu corpo. Sim, teve uma hora que se falava tanto em demônio, que eu fiquei na dúvida em que culto eu realmente estava.
 
Passa-se a sacola e entregue o que você tem de valor, porque o Senhor lhe dará em dobro, você ficará curado, terá emprego e se livrará de suas aflições. Nesta hora, vi chaves, pessoas tirando relógios, cordões de ouro e eu percebi que elas estavam possuídas. Entre lágrimas, todas elas diziam, Deus vai me dar em dobro. E o pastor continuava: quem tem fé, doa mais à igreja, quem tem menos, doa pouco. Retiro-me do templo, não há mais nada a ser ouvido e os pobres com o dinheiro coração na mão, doa no mínimo 10% do seu salário para as “obras” da igreja e ainda perguntam se eu quero me converter.
 
Desisto e penso, por que raios eu quis ser engenheiro? Não era mais fácil fazer um curso com o bispo, decorar todos os versículos da bíblia, enganar os mais fracos, pobre ou rico e conseguir tirar tudo que ele tem e sair de lá no meu carro de luxo? Ter minha linda casa em Campos do Jordão e quem sabe meu canal de TV, tudo isso de acordo com as graças do Senhor nosso Deus.
 
Com tanto dinheiro em jogo, senti até saudades das lágrimas de crocodilo da bispa e da igreja Renascer, lembra?
 
Neste ciclo vicioso, termino aqui com a letrinha da musiquinha, bem bonitinha, da queridinha Aline Barros para os pequeninos. A música se chama a oferta da viuvinha. Uma verdadeira lavagem cerebral desde cedo
 
A viuvinha pôs na caixinha
Sua moedinha, o seu melhor
E quem oferta com alegria
Junta o tesouro muito maior
Jesus se agrada, Jesus se agrada
Da ofertinha da criançada
Das moedinhas fazendo assim:
Tirilim, tim, tim. Tirilim, tim, tim.
Tirilim, tim, tim. Tirilim, tim, tim.
 A oferta vai caindo dentro da caixinha
Tirilim, tim, tim. Tirilim, tim, tim.
Eu quero um coração igual o da viuvinha