segunda-feira, 19 de abril de 2010

Uma questão de fé


Para desviar o foco das atenções, a Igreja Católica Apostólica Romana tenta utilizar uma estratégia política ultrapassada: afastar os holofotes de uma polêmica gerando uma nova polêmica. Talvez ela acreditasse que continuar rezando pelo catecismo propagandístico de Hitler (1989-1945) seria a melhor forma de sair da fossa na qual se meteu até o pescoço.
Hitler considerava que a propaganda devia ser popular, dirigida às massas, desenvolvida de modo a levar em conta o nível de compreensão dos mais baixos. "As grandes massas", dizia ele, "têm uma capacidade de recepção muito limitada, uma inteligência modesta, uma memória fraca".
Mas a Igreja Católica não aprendeu muito bem a lição. Pois Hitler, em conluio com Paul Joseph Goebbels (1897-1945), também disse que “a propaganda jamais apela à razão, mas sempre à emoção e ao instinto”.
Para justificar a enxurrada de acusações de pedofilia e tortura contra padres e bispos em todas as partes do mundo, baseada em pesquisas científicas desconhecidas pela própria comunidade científica, a Igreja tentou desviar o foco das atenções jogando nas costas largas dos homossexuais a culpa pelas monstruosidades cometidas por seus representantes, inclusive pelo Papa Bento XVI, que, mesmo não cometendo os crimes, acobertou. Para mim, dá mesma.
Coisa insana – Fico pensando cá com meus botões: “De onde será que tiraram essa ideia de que os casos de pedofilia são culpa da homossexualidade? Coisa mais insana!” Em disputa com os escândalos católicos estão os escândalos da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Por meio de um vídeoentregue por um ex-voluntário da Igreja, ficamos sabendo como o staff de Edir Macedo se preparou para enfrentar a crise econômica de 2008.
Em sistema de videoconferência, aparece Romualdo Panceiro, propenso sucessor de Edir Macedo, ensinando outros pastores a arrancar grana dos fiéis usando trechos da bíblia. Além disso, Romualdo também diz que para diminuir a quantidade de assaltos aos carros forte, responsáveis pela logística dos dízimos, é preciso fazer acordo com os bandidos, como já fizeram em outros Estados brasileiros.
Diante da situação escandalosa das duas maiores potencias religiosas brasileiras, os velhos fantasmas relacionados à fé voltam a me atormentar. Penso a fé em dois aspectos: na conduta humana e na religiosa. Dois elementos que, embora distintos, estão intimamente ligados, no meu entender. E, para entender essa questão, escrevi um romance amargo e dolorido: O Ventre de Oxum.
Fé e razão – Foi preciso sangrar 256 páginas, distribuir cusparadas em Deus, nos homens e nos Orixás para compreender: onde começa o pensamento racional termina a fé e onde começa a fé termina o pensamento racional. Além disso, também compreendi que todos precisam da fé, mesmo que ela tenha como objeto de adoração a sua própria conduta moral e ética, transformando a si próprio numa espécie de deus, como é o caso dos ateus.
Meu romance é um registro do estado emocional e da cosmovisão presente naquela fase da minha vida. De lá pra cá, algumas coisas se modificaram, outras estão na mesma. Hoje, acredito mais no ser humano e fiz, verdadeiramente, as pazes com a minha fé. No entanto, periodicamente, faço um balanço geral da relação que mantenho com o Sagrado. Preciso ter certeza de que a conduta dos lideres religiosos não contaminaram o intercambio puro entre mim e aquilo que creio.
Não cabe a ninguém meter o bedelho na escolha religiosa de qualquer pessoa. Mas, talvez, uma saída para os fiéis dessas religiões em crise seja exatamente fazer um balanço de suas relações diretas com Deus. Dessa forma, cada indivíduo manterá a pureza da fé e a consistência do mistério, além de conseguir analisar com clareza qual melhor rumo a se seguir dentro da instituição a qual pertence. Afinal, o que está em xeque não é Deus, mas sim as Igrejas.

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