Algo está muito errado quando a maioria dos parlamentares, na contramão da vontade da maioria da sociedade, prefere um modelo de desenvolvimento que, em razão do lucro rápido, compromete o futuro do próprio país.
O novo Código Florestal aprovado pela Câmara é tudo, menos "florestal". Virou uma regulamentação de atividades econômicas no campo, nas cidades e nos litorais, de forma a dourar a pílula e apaziguar consciências. Está longe de representar equilíbrio, sustentabilidade, respeito às pessoas e aos bens do país.
O que saiu do Senado, tido como de "consenso", já ignorava o parecer das autoridades científicas e de especialistas de diversas áreas. Em nome dele, lideranças de quase todos os partidos classificaram como "radicais" as vozes críticas que defendiam as salvaguardas da legislação ambiental, capazes de garantir a qualidade de vida das gerações presentes e futuras.
As mesmas lideranças, porém, contemplaram os interesses verbalizados pelas outras vozes mais radicais de um Brasil atrasado, que se recusam a entender que desenvolvimento econômico e preservação ambiental são indissociáveis.
Tais escolhas colocam a presidente Dilma diante da tarefa de fazer o que sua base de apoio não fez. Veremos debates nos próximos dias, principalmente sobre o que deve ser vetado. A discussão será algo do tipo: o quão menos ruim o projeto pode ser para não ter um caráter imediatamente fatal.
Como foi aprovado no Congresso, já é praticamente unânime que ele trará implicações nas taxas de desmatamento. Discutir o veto parcial é como avaliar se desejamos colapsar os nossos ecossistemas (e, com isso, inviabilizar nossa agricultura) em 10 ou 20 anos.
O veto deve anistiar os desmatadores ou desobrigar a recomposição de matas ciliares? Deve ser pelo fim dos mangues ou pela redução de reserva legal? Fragilizar as veredas ou as nascentes e mananciais?
Não é isso que deveríamos discutir. Temos todas as condições de liderar o processo de transição para o desenvolvimento sustentável. O Brasil pode ser para o século 21 o que os Estados Unidos foram para o mundo no século 20. Mas são necessárias visão antecipatória e determinação de perseguir nosso destino de grande potência socioambiental. Não é fácil fazer a melhor escolha, porém é na pressão dos grandes dilemas que se forja a têmpera dos que estão afiados a talhar os avanços da história.
A presidente Dilma terá que decidir qual modelo de desenvolvimento quer para o país. Não dá para ter na mesma base de apoio o sonido da motosserra e o canto do uirapuru. Agora, resta a ela usar seu poder de veto ou compactuar com o que está posto. Chegou a hora da verdade. Veta, Dilma. Veta tudo, não pela metade.
A OUSADIA em ser DIFERENTE reflete nas suas atitudes e na sua personalidade. E é assim que as pessoas lembrarão de você um dia.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
sábado, 7 de abril de 2012
Breve nota sobre o amor
Amor é substantivo. Amar é verbo. Substantivos abstratos são o que a própria definição aponta: inconsistentes, vagos, voláteis. Amor é sentimento ansioso por vertebrar-se. Verbos são todos concretos. O amor, se não virar ação, permanece verbete, fria definição de algum dicionário. Talvez palavra frívola dos folhetins baratos. Amor, para ser verdadeiro, precisa desdobrar-se em compromisso – e adquirir tato.
O cotidiano, a rotina, a mesmice, conspiram contra o amor gerado por sentimentos momentâneos. Emoções efêmeras não sobrevivem à tritura da repetição. O dia a dia, porém, solidifica o amar compromissado. A cada instante, momentos delicados do viver se misturam aos hábitos. Só com o tempo a declaração “eu te amo” ganha significado.
Amar aceita a imperfeição – não só a tolera. Os apaixonados são todos iludidos. Os amantes atravessam o largo canal que separa as idealizações das pessoas verdadeiras. No amar, o outro é celebrado com menos distorção. Quando se ama, perdoar perde a força de controle – ambos se sabem carentes de compreensão.
Amar é descobrir, de mãos dadas, a beleza de viver. A dor, descobrimos sozinhos. Alegria precisa de companhia. Alguns momentos só valem quando partilhados. Não tem graça fazer churrasco no quintal sem riso e sem conversa. Ou beber o melhor vinho sem amigo para brindar. Ou contemplar uma linda paisagem sem poder comentar. Ou repartir a alegria de ver uma criança sorrindo.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Atirei o Pau no Gato
Atirei o pau no gato-to
Mas o gato-to
Não morreu-eu-eu
Dona Chica-ca
Admirou-se-se
Do berro, do berro, do berro que o gato deu:
Miau!
Se você nasceu até 1991 e conseguiu ler essa poesia infantil cantarolando uma das músicas mais conhecidas da minha infância, fico feliz por você. Eu tenho saudade dessa época. Saudade do tempo em que “Atirei o pau no gato” era apenas uma música inocente e divertida, que embalava rodas de crianças sem nenhuma maldade. Conversando com a diretora da escola de minha prima, ela me informou que essa música foi abolida de todas as escolas que ela conhece, porque incentiva maus tratos aos animais.
Até criaram outra versão:
Não atire o pau no gato-to
Porque isso-so
Não se faz-faz-faz
O bichinho-o
É nosso amigo-go
Não devemos maltratar os animais
Miau!
Esse é o tipo de caso que reforça o ditado “a maldade está nos olhos de quem vê” e onde o completo com um “e não na boca de quem canta”. Que eu me lembre, jamais senti vontade de atirar um pau num gato por causa dessa música. Na verdade, só vim entender que “do berrô, do berrô...” significava o berro do gato, depois de muito tempo.
A letra da nova versão é perfeita, correta e do bem. Mas... veja que ironia: garanto que quem compôs, não se lembra que para uma criança e até pra nós mesmos, o “não faça!” significa “faça escondido” e o “faça!” significa “vou ver se vale a pena antes de fazer”.
Vou ensinar a meu filho a cantar “Atirei o pau no gato” da maneira que aprendi, e vou ensinar a não maltratar os animais, assim como também aprendi.
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